Inovação no tratamento da depressão
Antidepressivo nasal começa a ser utilizado em Pelotas
Medicamento é pioneiro em velocidade no tratamento da doença. Efeitos começam 24 horas após a sua utilização
Carlos Queiroz -
Um medicamento inovador no tratamento da depressão começou a ser utilizado em pacientes de Pelotas nesta última sexta-feira (29). O novo antidepressivo é o primeiro a ter aplicação por via intranasal e tem resultados promissores, fazendo efeito já nas primeiras 24 horas após o uso.
Conhecido como cloridrato de escetamina (Spravato), o fármaco é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela FDA (agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos) para o tratamento da depressão com comportamento suicida e para a depressão refratária ao tratamento, quando o paciente - mesmo após o uso de dois antidepressivos diferentes - não apresentou melhora dos sintomas.
O diferencial do spray é a sua rápida eficácia. Diferentemente dos medicamentos usuais, que levam em média de três a quatro semanas para começar a fazer efeito, o novo antidepressivo atenua os sintomas já nas primeiras horas após a utilização. De acordo com o médico psiquiatra Augusto Lucas Bittencourt, a agilidade do tratamento com Spravato se deve à sua ação de atuar como modulador dos receptores glutamatérgicos.
"Esse mecanismo de ação faz com que esse medicamento tenha como diferencial o rápido início de ação, com melhora dos sintomas já nas primeiras 24 horas após o uso, diferente dos outros antidepressivos que demoram algumas semanas para o início de seus efeitos", explica.
O psiquiatra é proprietário da clínica Vínculos, um Centro Especializado em Saúde Mental e o primeiro local da Zona Sul do Estado a iniciar tratamentos com o fármaco. Por enquanto, o antidepressivo ainda não está disponível no sistema público de saúde. "A nível mundial, vários países já estão aplicando o medicamento em hospitais públicos. Isso é uma mudança de visão, de que o investimento em saúde mental é muito importante", conta.
Bittencourt explica ainda que o Spravato não será comercializado em farmácias, pois se trata de um medicamento que a aplicação tem que ser feita por um profissional da saúde, além de haver a necessidade do paciente ser observado durante o período de uma hora e meia após o uso. "Ele é considerado um procedimento. É um medicamento que tem que ser aplicado em clínicas especializadas e hospitais, porque ele tem que ser acompanhado", informa.
Tratamento
Qualquer paciente que tenha apresentado o quadro de crise suicida relacionada à depressão poderá ser candidato ao tratamento com o Spravato, que deverá ser de duas aplicações do spray por semana durante um mês. Simultaneamente ao procedimento, o paciente também usará o antidepressivo tradicional. "Aí, após 30 dias, já terá passado o tempo necessário para o antidepressivo normal fazer efeito, o qual ele seguirá usando para tratamento", esclarece o profissional.
Já para depressão refratária ao tratamento, o procedimento se dá por um período mais extenso, por pelo menos seis meses, em razão dos medicamentos usuais não apresentarem efeitos nesses pacientes.
Depressão
De acordo com o psicólogo e professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Luciano Souza, a depressão é uma doença mental com origens multifatoriais. O quadro pode ser causado por questões genéticas, fisiológicas, sociais, entre outras.
Os principais sintomas são as alterações de humor, como tristeza e irritabilidade, perda de interesse em atividades que antes eram relevantes para o paciente, falta de energia, pensamentos suicidas, além de alterações de peso e sono. O psicólogo alerta que em casos em que esses sinais sejam persistentes por mais de duas semanas, é necessário procurar atendimento médico.
A porta de entrada para as avaliações psicológicas é a Unidade Básica de Saúde (UBS). Após procurar uma delas, o paciente é encaminhado para os atendimentos adequados. Souza acrescenta ainda que pessoas com quadro mais grave de depressão também podem buscar ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
O psicólogo explica que a faixa etária de pessoas que mais sofre com a depressão é a de jovens adultos. "Mas também depende bastante do contexto. Também têm crescido os quadros depressivos em idosos e crianças", declara.
A estimativa, de acordo com estudos da UCPel e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), é de que a prevalência de pessoas com algum nível de depressão na cidade seja de 8% a 10% da população.
Prevenção
Algumas ações podem ajudar na prevenção da depressão, como a ativação social, a busca por um maior contato com amigos, familiares e outros contextos de socialização, além da ativação funcional, feita por meio da tentativa de manter os hábitos funcionais, como trabalho, estudo, atividades físicas e sono regrado.
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